Uma tendência com muita identidade
O design, assim como a arte, é um instrumento utilizado em diversos âmbitos para interferir na cultura refletindo-a, estabelecendo e aperfeiçoando princípios e valores, ou talvez confrontando e recriando tais definições afim de acompanhar a evolução social.
Uma tendência próxima no design que adota estes fundamentos é o Afrofuturismo, um movimento estético, social e cultural que se apropria de aspectos tecnológicos, cósmicos e mitológicos africanos.
Fontes: Dossiê Afrofuturismo e Lina Viktor
É provável que você já tenha encontrado o movimento sem ter conhecimento, talvez na música, nos quadrinhos, no cinema, ou ainda na moda, artes plásticas e literatura, nos quais é representada uma conexão entre a história, a ancestralidade e diáspora africana com a tecnologia e ciência, o novo e inexplorado.
Em resumo o afrofuturismo utiliza de elementos de ficção científica, realismo mágico e místico, com o objetivo de retratar os dilemas dos africanos e questionar e reinventar os eventos históricos do passado relacionados ao racismo global.
A origem do movimento é vinculada à personalidade de Sun Ra, pseudônimo usado por Herman Poole Blount, compositor de jazz e filósofo cósmico. Na década de 30, através de seu pseudônimo, apresentações e composições, Sun Ra já indicava características do movimento, como a conexão entre referências místicas não-ocidentais, elementos pós-humanos e robóticos. Porém, a definição de Afrofuturismo foi descrita apenas em 1994 pelo crítico Mark Dery, em seu ensaio “Black to the Future”, que questionava a escassez de escritores negros de ficção científica naquela época, devido a exclusão e descaracterização da África propagada como exótica. Surgiu assim, a proposta de pensar em um futuro em que a essência afro esteja envolvida.
Atualmente no Brasil temos o exemplo do autor Fábio Kabral, criador de O caçador cibernético da rua 13 – romance que mescla crenças do Candomblé em um planeta tecnologicamente avançado. Mas na área visual este movimento vem ganhando força, dentre as aplicações mais conhecidas estão as revistas em quadrinhos e produção cinematográfica do filme Pantera Negra pela Marvel, além dos cenários criados por Es Devlin para o palco do The Weeknd no festival Coachella.
Fontes: Black Panther e Es Devlin – The Weeknd
Além disso podemos citar artistas como FKA Twigs, Beyoncé e Rihanna como representantes na música pop, e os temas pós-industriais das músicas techno de Detroit de produtores como a Derrick May e Jeff Mills, e George Clinton.
Na estética do movimento é comum encontrar referências ao misticismo, primitivo e a mitologia africana, elementos com mood Sci-Fi e hi-tech elementos metalizados e espelhos, cores vibrantes em tons de laranja, azul e violeta e aspectos do jazz, ficção científica e psicodélica.
Fontes: Exposição Afrofuture, Memorial do genocídio de Kigali de Mass Design Group e Cyrus Kabiru
São trabalhados ainda volumes com intimidação, madeira, cores terrosas e materiais naturais em referência à história da África. Peças curvilíneos e circulares por exemplo representam “o ciclo da vida”, remetem ao renascimento, morte e vida.
Fontes: Sets de Pantera Negra, Exposição “Afro-Tech e o Futuro da Re-Invenção”, Curta-metragem We Need Prayers: This One to Market , Esculturas de Cyrus Kabiru, Cadeira Nyala, Atang Tshikare, Mabeo Furniture e Pavilhão Serpentine.
Por fim, percebemos que o movimento instiga mudanças sociais necessárias e inspira o envolvimento do design em causas como esta, possibilitando o emprego de seus conceitos e permitindo sua expansão.
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